domingo, 22 de março de 2009
Clarice Lispector
"... Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. As vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."
Clarice Lisperctor, Em: Felicidade Clandestina.
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6 comentários:
é como me sinto quando leio. alguns textos são tão lindos, tocam tão em mim mesmo, que acho até que não tenho "direito" de usufruir sozinho...
Que terno texto, tão feminino...
Beijo e boa semana
Mari
Que lindo texto aqui deixado.
Apaixone-me por "As vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."
Semana de muita alegria
Para Clarice Lispector
"Quando eu morrer não façam harpas dos meus nervos"
Deixem-nos presos ao que restou de lírico no corpo mudo.
Cada respiração soe como uma nota
oitavada prova de que meu corpo ardia.
Não arrematem os meus desejos ou façam souvenires de minhas lembranças.
Sobretudo você, José, porque são suas.
Dormirão em mim como um poema
Stella Tavares
Simpática Amiga:
um texto lindíssimo, saído das mãos de ouro de um belo pensador.
Delicioso. Repleto de "secretismo" feminino. De uma sensibilidade "escondida" extraordinátia só delas. Terno. Sensível.
Uma excelente escolha.
Beijinhos puros de amizade.
Sempre a respeitá-la e a estimá-la...
Com imensa consideração.
pena
Adorei!
Bem-Haja pela simpatia no meu "cantinho". OBRIGADO sincero e sentido!
Mari
Com a actividade nos blogues vou conhecendo mais a cultura escrita de Clarice Lispector, de quem antes conhecia pouco mais do que o nome. Como esta prosa ainda não tinha lido,agradou-me como todos os seus trabalhos de que vou tomando conhecimento.
Aprecei imenso e achei óptima a tua selecção.
Daniel
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