domingo, 28 de dezembro de 2008

Luis de Camões

Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Obtido em "http://pt.wikisource.org/wiki/Mudam-se_os_tempos,_mudam-se_as_vontades"
Categorias: Luís Vaz de Camões

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Arnaldo Antunes e Nando Reis

" ... Os anos se passaram enquanto eu dormia..."

Fernando Pessoa



"...O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos ..."

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Férias em Lisboa


"Ah! e as viagens, as viagens de recreio, e as outras..."


"Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores…
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar."

É isso, estou indo a Lisboa. Quando o dia
acordar estarei pisando na terra de Fernando
Pessoa. É a realização de um grande sonho.


"Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
Não se distrai de ti, nem bem nem tanto."

Não postarei diariamente, mas farei o possível
pra não me manter tão longe daqui, afinal, esse
é meu vício atualmente.


Não por acaso, escolhi esses versos do grande
poeta para registrar esse momento da minha vida.


"Boa viagem! Boa viagem!
Boa viagem, meu pobre amigo casual, que me fizeste o favor
De levar contigo a febre e a tristeza dos meus sonhos,
E restituir-me à vida para olhar para ti e te ver passar.
Boa viagem! Boa viagem! A vida é isto..."

Imagem: google

Textos: Fernando Pessoa

E. E. Cummings


Poema cantado por Ana Carolina


"Eu gosto do seu corpo
Eu gosto do que ele faz
Eu gosto de como ele faz
Eu gosto de sentir as formas do seu corpo
Dos seus ossos
E de sentir o tremor firme e doce
De quando lhe beijo
E volto a beijar
E volto a beijar
E volto a beijar"


Imagem: Google

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal


"Meus amigos,
Que neste Natal, Jesus
Faça nascer novamente
No coração de cada um de nós:

A INOCÊNCIA
Para sabermos ser transparentes,

O CARINHO
Para cativarmos novos amigos,

A GRATIDÃO
Para valorizarmos a vida em plenitude,

O PERDÃO
Para reconciliarmo-nos no amor,

A COMPREENSÃO
Para sabermos perdoar

O ENCANTAMENTO
Para apaixonarmo-nos pela busca de felicidade,

A SABEDORIA
Para respeitarmos os pontos de vista do outro,

A SOLIDARIEDADE
Para aprendermos juntos a construir caminhos,

A FÉ
Para acreditarmos também no outro,

A PAZ
Para ajudarmos a construir sempre,

A CORAGEM
Para sabermos retomar nossos sonhos,

A VONTADE DE AMAR
Para sermos felizes!

E bem lá no fundo da minha alma

Quero neste Natal armar uma árvore de raízes profundas dentro do meu coração e nela pendurar em vez de presentes o nome dos meus amigos... A melhor prenda que se pode receber pelo Natal é a AMIZADE, longe ou perto, na multidão ou no silêncio, nos bons e
maus momentos". Que 2009 seja
abençoado com abundância de amor, saúde, dinheiro e felicidade.

Sintam- se abraçados .

António Lobo Antunes

(...) Penso no absurdo de escrever. De estar a escrever quando podia estar com os amigos, ir ao cinema, ir dançar que é uma coisa de que gosto... mas não, um tipo está ali e é um bocado esquizofrénico. (...) Há sempre uma parte subterrânea nas obras de arte impossível de explicar. Como no amor. Esse mistério é, talvez seja, a própria essência do acto criador. (...) Quando criamos é como se provocássemos uma espécie de loucura, quando nos fechamos sozinhos para escrever é como se nos tornássemos doentes. A nossa superfície de contacto com a realidade diminui, ali estamos encarcerados numa espécie de ovo... só que tem de haver uma parte racional em nós que ordene a desordem provocada. A escrita é um delírio organizado."

domingo, 21 de dezembro de 2008

José de Alencar

"...Mas a senhora lê e eu vivia; no livro da vida não se volta, quando se quer, a página já lida para melhor entendê-la; nem pode-se fazer a pausa necessária à reflexão. Os acontecimentos nos tomam e nos arrebatam às vezes tão rapidamente que nem deixam volver um olhar ao caminho percorrido..."
- José de Alencar, em Luciola.

Álvaro de Campos

"...Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira..."

Manuel Bandeira


Desencanto

"Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre."
Imagem: Google.

sábado, 20 de dezembro de 2008

E.E. Cummings



"Querida,

porque faz tempo que não lhe escrevo e porque existem -sempre- coisas a ser ditas. Porque você é a menina que me irrita, bárbara e tola, e me devassa. Porque são lindos teus cachinhos e teus olhos.

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas)

porque são calmas as tuas mãos, sendo tu inteira desastrada e aflita e mesmo quando me retraí - e assim quedo, combalida - mesmo quando diz que eu sou sem graça e não contem, nos olhos, a fúria; mesmo então é a mulher das minhas noites; pra quem já fui mimada e perturbada, um bicho perigoso, o animal mais acuado. Quem me ouviu os desastres e desatinos, as manhãs de ressaca, as tardes de mau-humor e mesmo quando vazios, queria saber dos meus dias. Mulher que já me viu, assim derrotada, aos pés de uma escada pra cumprir penitência e que acompanha todas minhas tentativas de samba, porque eu queria mesmo, chapéu branco, navalha no bolso, era ser mão que empunha pandeiro e tu ias dizer aos outros que a tua sina era a miséria que encontrou nos meus olhos: ser mulher de malandro.

Meu Amor, tu és. Ainda não sabe? "

Texto: tradução de Augusto de Campos.
Imagem: Ava Gardner, Google.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ferreira Gullar



"... Eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti

bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era...
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
perdeu-se na profusão das coisas acontecidas
constelações de alfabeto
noites escritas a giz
pastilhas de aniversário
domingos de futebol
enterros corsos comícios
roleta bilhar baralho
mudou de cara e cabelos mudou de olhos e risos mudou de casa
e de tempo: mas está comigo está
perdido comigo
teu nome
em alguma gaveta ..."

Trecho do Poema Sujo, de
Imagem: google

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll

"...Pelo menos eu sabia quem era quando acordei hoje de manhã,

mas acho que, desde então, mudei várias vezes..."


"... Como tudo é esquisito hoje! E ontem tudo era extamente como de costume! Será que fui eu quem mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Mas se eu sou a mesma, a próxima pergunta é: 'Quem é que eu sou?'. Ah, essa é a grande charada! "


"...Alice:

"por favor, o senhor poderia me dizer como eu saio daqui?"

gato:

"depende para aonde você quer ir."

alice:

"bem.. eu não sei.. não importa, qualquer lugar para sair daqui."

gato:

"para quem não sabe pra onde ir, todos os caminhos servem"

(o gato some e fica só o sorriso)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Clarice Lispector

"... Me dá um carinho
pela raça humana.Amar
os outros é a única
salvação individual
que conheço. Ningúem
estará perdido se der
amor e às vezes receber
amor em troca..."

Amor de Colombina



Arlequim : Um desejo
Pierrot : Um Sonho
Colombina: A Mulher

COLOMBINA , sorrindo e tomando ambos pela mão:

Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:

A Arlequim:

O teu beijo é tão quente...

A Pierrot:

O teu sonho é tão manso...

Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu... outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar, e em verdade toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente,
porque a história do amor pode escrever-se assim:

PIERROT
Um sonho de Pierrot...

ARLEQUIM

E um beijo de Arlequim!

Imagem: google

Nando Reis e Cássia eller

"... Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu ..."

Eu não quero mais mentir
Usar espinhos
Que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno
Que me atraiu
Dos cegos do castelo
Me despeço e vou
A pé até encontrar
Um caminho, um lugar
Pro que eu sou...

Eu não quero mais dormir
De olhos abertos
Me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver
Venha explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou...

E se você puder me olhar
Se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar...

Eu vou cuidar
Eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Do seu jardim...

Eu vou cuidar
Eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim...

Eu não quero mais mentir
Usar espinhos
Que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno
Que me atraiu
Dos cegos do castelo
Me despeço e vou
A pé até encontrar
Um caminho, um lugar
E pro que eu sou
Oh! Oh! Oh! Oh!...

E se você puder me olhar
Se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar...

Eu vou cuidar
Eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Do seu jardim...

Eu vou cuidar
Eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim
Oh! De mim!
E você e de mim
E de você e de mim...



E para matar a saudadede Cássia Eller,

" ... O que vc esta fazendo ?
milhões de vasos sem nenhum flor? ..."


" ... Eu trocaria a eternidade por essa noite! ..."



























'

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Eugénio Andrade



"É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer."
Imagem: Elisabeth Taylor, google.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Los Porongas


"Nascida em Rio Branco, no Acre, há quatro anos e atualmente residindo em São Paulo, a banda Los Porongas, tem sido apontada pela crítica como uma das novas revelações do rock brasileiro. Seu novo CD, homonimo, tem sido muito bem recebido pela crítica especializada, com destaque em veículos como Folha de São Paulo, Estado de Minas, Correio da Bahia, Diário do Nordeste, Diário do Pará, Programa Alto-Falante, entre outros.

Lançado pelo selo Senhor F Discos, o CD foi gravado e produzido por Philippe Seabra (da Plebe Rude), no Estúdio Daybreak, em Brasília, e foi listado entre os 25 melhores discos brasileiros de 2007 na Revista Rolling Stone. Em sua página do myspace a banda mostra-se eclética com suas influências musicais, citando bandas como: Beatles, Radiohead, Kula Shaker Ocean Colour Scene, Moby, Nirvana, Gilberto Gil, Los Hermanos, The Smiths, Oasis, The Yeah, Yeah, Yeahs, Stone Roses, Vanguart, Superguidis, Chico Science e Nação Zumbi. A banda é formada por Diogo Soares (voz), João Eduardo (guitarra), Márcio Magrão (baixo) e Jorge Anzol (bateria)."

Frida Kahlo


Para que pés, se tenho asas para voar?


"Porque é que lhe chamo Meu Diego?
Ele nunca foi e nem será meu.
Ele pertence a si próprio."


"Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.''

"Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor"

"Diego está na minha urina, na minha boca, no meu coração, na minha loucura, no meu sono, nas paisagens, na comida, no metal, na doença, na imaginação."

Imagem: Obras de frida Kahlo, tirada da net.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Miguel Torga



TRANSFIGURAÇÃO

"Tens agora
outro rosto, outra beleza:
Um rosto que é preciso imaginar,
E uma beleza mais furtiva ainda...
Assim te modelaram caprichosas,
Mãos irreais que tornam irreal
O barro que nos foge da retina.
Barro que em ti passou de luz carnal
A bruma feminina...

Mas nesse novo encanto
Te conjuro
Que permaneças.
Distante e preservada na distância.
Olímpica recusa, disfarçada
De terrena promessa
Feita aos olhos tentados e descrentes.
Nenhum mito regressa....
Todas as deusas são mulheres ausentes."
Imagem: sophia Loren, tirada da net

sábado, 13 de dezembro de 2008

As Chicas

Assisti a um show maravilhoso hoje: As Chicas. Vale a pena guardar no baú.

Caio Fernando Abreu


"Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também. Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mario Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.

Imagem:Caio Fernando Abreu, tirada da net.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Ana Cristina César







Fagulha

"Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal."



imagem:Ana Cristina César , tirada da net

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Wally Salomão


POST-MORTEM

"Um cavalo-marinho mergulha em seus círculos de corais

mas em sua mente só revela a atualidade do belo.

O passado pode estar abarrotado de chateações

mas daqui pra frente ótimas fotos e melhores filmes

e amor e gravidez no bojo do macho

e horas infindas deitado nas areias

especulando nuvens

que se esgarçam ao sabor e ao deslize das figuras.

Um gosto permanecer aqui extasiado

e sem querer comparecer a nenhum vernissage

cansado dos artistas

que dão aos seus quadros a última demão de verniz

e permanecer lasso das exposições e dos museus a visitar

e do dernier cri

esquecer os pacotes de encomendas à Amazon Books

e fugir dos seminários sem sêmen nem humor trocadilhescos.

Quase morrer é assim:

uma cada vez crescente ojeriza com a "vidinha literária"

de par com a imorredoura memória de certas linhas,

por exemplo,

que durante o resto de tempo que me é concedido viver

e na hora H da morte,

estampada na minha face esteja a legenda:

O que amas de verdade permanece, o resto é escória.

Sonhar com Provenças e Venezas e Florenças.

Rever Piero della Francesca

e a Essaouira de meu amigo Garbil, o boxeador.

E a vista de Delft de Vermeer.

A Barcelona do poeta-clochard-palhaço Joan Brossa.

A cena de New York, minha e de todos e de Ashbery

e de Frank O'Hara e de ninguém.

Sobem fiapos da infância de um tabaréu:

ora eu era

uma piaba nadando por entre bancos de areia do Rio das Contas

ora eu era

um acari das locas do Gongogi - rio cheio de baronesas.

Idade de ouro fluvial, plástica, flamante.

Fogueira gigante das noites de São João. Fogos-de-bengala.

Eu sozinho menino e o Amadis de Gaula

e os outros todos principais cavaleiros

e as outras todas principais damas

que povoavam as varandas, os pastos,o curral,a balsa, a chácara,

as pedras,os capins e as matas da Coroa Azul do raro Balito.

Convive-se com uma criatura sem imaginar sequer de que reino provém.



Zelar pelo deus Treme-Terra que meu coração devolveu.

Não cortejar a morte.

Não perambular pelos cemitérios

nem brindar o luar patético

com caveiras repletas de vinho tinto seco

como um Byron-Castro Alves gótico e obsoleto.

Sereno e cabeça dura - testa ruda -

mirar de frente da caveira

e as tropas de vermes de prontidão

(como observo vermes dentro de um pêssego)

Mas por enquanto gargalhar da irrealidade da morte.

Gozar,gozar e gozar

a exuberância órfica das coisas

em riba da terra

debaixo

do

céu."

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Beirut - Elephant Gun

Assistam!
É lindo de doer!



Beirut é uma banda formada em 2006 em Santa Fé, Estados Unidos, por Zach Condon. São fortemente influenciados pela música folk, usando instrumentos como violinos, violoncelos, órgãos, pianos, Ukeleles, Congas, clarinetes, bandolim, guitarra, trompetes e diversos outros.

Do livro: Afrodite, de Isabel Allende


"Seu hálito é como mel aromatizado com cravo;
Sua boca, deliciosa como uma manga madura.
Beijar sua pele é como experimentar o lótus.
A cavidade do seu umbigo oculta uma profusão de especiarias.
Que prazeres repousam depois, a língua sabe,
Mas não pode dizer.
(Srngarakarika, Kumaradadatta/ século XII)

A mulher é como uma fruta que só exala sua fragrância quando a esfregam com as mãos. Tome, por exemplo, o manjericão: a menos que o aqueçamos com os dedos, ele não emite seu perfume. E você sabe, por exemplo, que se o âmbar não for amornado e manipulado, ele retém o seu aroma? A mesma coisa acontece com a mulher: se não a animar com seus beijos e carícias, com mordidas nas coxas e abraços apertados, você não obterá o que deseja; não experimentará prazer quando ela compartilhar seu divã, e ela não sentirá afeto por você.
(O jardim perfumado)


Tu te aproximas de mim
com o cheiro
da grama matinal
recém-cortada:
meus mamilos endurecem.
(Haiku de Yuko Kawano)

Perfumei minha alcova
Com mirra, aloé e canela.
Vem, embriaguemo-nos de amores até a manhã,
Fartemo-nos de amores.
(Provérbios 7: 17-18)

Teus brotos são paraíso de romãs, com frutos suaves, de flores de alfena e nardos; nardo e açafrão, bambus aromáticos e canela, com todas as árvores de incenso; mirra e aloé, com todas as principais especiarias aromáticas.
(Rei Salomão à Sulamita, O cantar dos cantares)

Suas faces são como uma eira de espécies aromáticas, como fragrantes flores, como lírios que destilam mirra fragrante.
(Sulamita ao Rei Salomão).

Imagem: Brigitte Bardot, tirada da net.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Do meu Diário



...Cansei de não sentir,
Cansei de ser amante da monotonia,
De ser igual todo dia,
Quero o desalinho nos cabelos,
O brilhos nos olhos de quem amou,
Quero a fome depois do sexo,
a preguiça compartilhda na cama,
O desejo de ter desejo...

Imagem: tirada da net.

Eugénio de Andrade


"Os navios existem, e existe o teu rosto

encostado ao rosto dos navios.

Sem nenhum destino flutuam nas cidades,

partem no vento, regressam nos rios.



Na areia branca, onde o tempo começa,

uma criança passa de costas para o mar.

Anoitece. Não há dúvida, anoitece.

É preciso partir. É preciso ficar.



Os hospitais cobrem-se de cinza.

Ondas de sombra quebram nas esquinas.

Amo-te… E entram pela janela

as primeiras luzes das colinas.



As palavras que te envio são interditas

até, meu amor, pelo halo das searas;

se alguma regressasse, nem já reconhecia

o teu nome nas suas curvas claras.



Dói-me esta água, este ar que se respira,

dói-me esta solidão de pedra escura,

estas mãos nocturnas onde aperto

os meus dias quebrados na cintura.



E a noite cresce apaixonadamente.

Nas suas margens nuas, desoladas,

cada homem tem apenas para dar

um horizonte de cidades bombardeadas."

Imagem: Rita Hayworth, tirada da net.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Nelson Rodrigues



“ Se eu pudesse - se os deuses permitissem –

teria assistido hoje ao seu despertar.

E, então, teria feito uma festa

de luz, de cor, de aroma.

Eu transportaria para tua alcova

toda a vibração musical da aurora,

todo o estremecimento solar.

E teria enfeitado os teus cabelos

com o mais lúcido e macio dos raios de luz;

e teria espargido sobre os teus ombros

o perfume mais suave da manhã;

e teria prendido no teu riso a pétala mais diáfana.

E, quando te levantasse,

eu faria com que pisasse rosas frescas e voluptuosas;

e assim teus pés teriam como que sandálias de perfume."

Imagem:Audrey Hepbum, tirada da net.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Ramos Rosa



"Para um amigo
Tenho sempre um relógio esquecido
Em qualquer fundo de algibeira
Mas esse relógio
não marca o tempo inútil
São restos de tabaco e ternura rápida
É um arco-íris de sombra quente e trêmula
É um copo de vinho
Com o meu sangue
E o sol"

Ramos Rosa é um dos grandes poetas portugueses contemporâneos.
para ele, escrever é, sempre, a necessidade de respirar as palavras e de às palavras fornecer o frémito do ser, os pulmões do sonho, e, com elas, criar a dádiva do poeta.


imagem tirada da net.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Castro Alves





"Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos - beijá-la.

Era um quadro celeste!...A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida :
'Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
'Virgem! - tu és a flor da minha vida!..."

Imagem: tirada da net

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Maria Bethânia


"Eu quero ser possuída por você,pelo seu corpo,
pela sua proteção, pelo seu sangue.
Me ama!
Eu quero que você me ame e fique eternamente me amando dentro de mim.
Com sua carne e o seu amor.
Eternamente, infinitamente dentro de mim
me envolvendo, me decifrando, me consumindo, me revelando...
Como uma tarde dentro do elevador, no verão, voltando da praia
e você me abraçou e eu te abracei...
E quanto mais eu me entregava, mais nascia o meu desejo,
Mais sobrava só o desejo, e mais eu te queria sem palavras, sem pensamentos...
A vida inteira resumida só no desejo da tua boca dizendo o meu nome,
Da tua mão conduzindo a minha mão,
Do teu corpo revelando o meu corpo,
Como se o mundo fosse pela primeira vez,
Você o meu ponto de referência nessa cidade... "
Imagem: tirada da net
texto: José Vicente.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Rachael Yamagata





...Um cheiro, uma canção, um olhar que se
perde pode nos levar a um mundo deixado no
abrigo do passado. Dia chuvoso, rádio ligado e
um arrepio, um fogo tomando conta das entranhas.
Um vírus que ameaça contaminar sempre que acha uma
abertura. Nesta hora, me dou conta do quanto meu corpo
carece de sensações. Meu corpo hoje é só o abrigo da minha
alma. Posso alimentar minha alma, mas não posso ser o amante
desejado por ela. Nada substitui o beijo e o gosto de ser possuida,
ser pertencida...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Mário Quintana


Toc... toc...
O passado me visitou ontem à noite.Veio
vestido com uma intenção de paz. Não o recebi
com assombro, afinal, minha alma não foi ferida
por ele. Mas por ser passado, não o convidei pra
entrar. Só abro a porta para o futuro.

É das gavetas do passado que tiro esse poema :

BILHETE

"Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..."

Mário Quintana

Imagem: tirada da net

Florbela Espanca



"Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
.
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
.
E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...
.
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas... "

imagem: Marilyn Monroe, tirada de Net.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Álvaro de Campos




E de repente, ao folhear um livro, já amarelado pelo tempo, me deparo com minha alma descrita por um grande autor... Nesta hora, penso: este poema sou eu.


" Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!

Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra..."
Imagem: Álvaro de Campos, tirada da net

Clarice Lispector




"Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar..."

Imagem: Clarice Lispector, tirada da net.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Adélia Prado


Desejo

“Eu não quero a faca e o queijo,

eu quero a fome.”



" Como uma frase tão curta pode causar um impacto tão profundo? Desde que a li, esta afirmação ecoa na minha cabeça oca. A voz que só eu conheço constrói - nas entrelinhas - um mundo inteirinho. As respostas. Sei que lá estão. Mas só ouço o eco.

Eu quero a fome...

quero a fome...

a fome...

fome..."

Texto: terapia das palavras.
Imagem: autor desconhecido.