" ... Eu Tive um Sonho
Houve um tempo quando os homens eram amáveis
Quando suas vozes eram suaves
E suas palavras convidativas
Houve um tempo quando o amor era cego
E o mundo era uma canção
E a canção era excitante
Houve um tempo... então tudo deu errado
Eu tive um sonho num tempo que já se foi
Quando esperanças eram elevadas e valia a pena viver
Eu sonhei que o amor nunca morreria
Eu sonhei que Deus estaria perdoando
Então eu era jovem e destemida
Quando sonhos eram feitos e usados e perdidos
Não havia nenhum resgate a ser pago
Nenhuma canção desconhecida, nenhum vinho intocado
Mas os tigres chegaram à noite
Com suas vozes suaves como trovão
Tal como eles rasgam sua esperança em pedaços
Tal como eles transformam seus sonhos em vergonha
Ele dormiu um verão ao meu lado
Ele encheu meus dias de maravilha infinita
Ele fez da minha infância o seu êxito
Mas ele se foi quando o outono chegou
E ainda sonho com ele vindo até a mim
E nós viveríamos juntos os anos
Mas há sonhos que não podem acontecer
E há tempestades que não podemos desafiar
Eu tive um sonho que minha vida iria ser
Tão diferente deste inferno que estou vivendo
Tão diferente agora do que parecia
Agora a vida matou o sonho que tive ..."
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Eugénio de Andrade
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
domingo, 26 de abril de 2009
Ivan Lins
" ... Lembra de mim!
Dos beijos que escrevi
Nos muros a giz
Os mais bonitos
Continuam por lá
Documentando
Que alguém foi feliz...
Lembra de mim!
Nós dois nas ruas
Provocando os casais
Amando mais
Do que o amor é capaz
Perto daqui
Há tempos atrás...
Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...
Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...
Lembra de mim!...
Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...
Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...
Lembra de mim!..."
Dos beijos que escrevi
Nos muros a giz
Os mais bonitos
Continuam por lá
Documentando
Que alguém foi feliz...
Lembra de mim!
Nós dois nas ruas
Provocando os casais
Amando mais
Do que o amor é capaz
Perto daqui
Há tempos atrás...
Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...
Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...
Lembra de mim!...
Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...
Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...
Lembra de mim!..."
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Mia Couto
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço.
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço.
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Mia Couto
"... Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida..."
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida..."
terça-feira, 21 de abril de 2009
Grão de Milho
"... O grão de milho pode ter dois destinos. Pode cair na terra e converter-se numa bela planta e produzir muitos outros grãos, ou ir parar na boca de um porco no meio da lavagem .
Eu sou como o grão de milho. Eu não permitirei que minha vida se transforme em alimento para porcos. Eu a quero ver multiplicada em frutos. Como o grão, minha vida tem que cair na terra. Será regada pelos meus suores de meus esforços e será abonado com meus anelos, minhas tristezas e meus fracassos, mas destes dissabores sairá a colheita dos meus trunfos. O grão que cai na terra e morre é o que da frutos. Estou morrendo as minhas comodidades, a meu orgulho, a minhas asperezas, a meu egoísmo e isto se converterá em uma colheita de grandes ideias realizadas.
O que cada um cultiva,isso colherá. Quero cultivar esforços porque desejo colher luminosas realidades..."
autor desconhecido.
Eu sou como o grão de milho. Eu não permitirei que minha vida se transforme em alimento para porcos. Eu a quero ver multiplicada em frutos. Como o grão, minha vida tem que cair na terra. Será regada pelos meus suores de meus esforços e será abonado com meus anelos, minhas tristezas e meus fracassos, mas destes dissabores sairá a colheita dos meus trunfos. O grão que cai na terra e morre é o que da frutos. Estou morrendo as minhas comodidades, a meu orgulho, a minhas asperezas, a meu egoísmo e isto se converterá em uma colheita de grandes ideias realizadas.
O que cada um cultiva,isso colherá. Quero cultivar esforços porque desejo colher luminosas realidades..."
autor desconhecido.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Trechos de Madame Bovary:
"... A cama era uma cama de casal de acaju em forma de barca. As cortinas de levantina vermelha que desciam do teto fechavam-se baixo demais, perto da cabeceira que se alargava; e nada havia no mundo de mais bonito do que sua cabeça morena e sua pele branca destacando-se sobre aquela cor púrpura quando, com um gesto de pudor, ela fechava os dois braços nus, escondendo o rosto nas mãos..."
"... Despia-se brutalmente, arrancando o fino cordão do seu corpete que lhe sibilava ao redor das ancas como o escorregar de uma cobra. Ia na ponta dos pés nus ver ainda uma vez se a porta estava fechada; depois, com um único gesto, deixava cair, juntas, todas as suas roupas; - e, pálida, sem falar, séria, abatia-se contra seu peito, com um longo estremecimento..."
"... E então, olhando para trás, percebeu ainda uma vez o impassível castelo, com o parque, os jardins, os três pátios e todas as janelas da fachada..."
"...A loucura assaltava-a, teve medo e chegou a controlar-se, mas confusamente, é verdade; pois não lembrava a causa de seu horrível estado, isto é, a questão do dinheiro. Sofria somente em seu amor e sentia sua alma abandoná-la com aquela lembrança, como os feridos, ao agonizar, sentem a existência esvair-se por sua chaga que sangra.
A noite caía, algumas gralhas voavam..."
Gustave Flaubert, Em: Madame Bovary.
"... A cama era uma cama de casal de acaju em forma de barca. As cortinas de levantina vermelha que desciam do teto fechavam-se baixo demais, perto da cabeceira que se alargava; e nada havia no mundo de mais bonito do que sua cabeça morena e sua pele branca destacando-se sobre aquela cor púrpura quando, com um gesto de pudor, ela fechava os dois braços nus, escondendo o rosto nas mãos..."
"... Despia-se brutalmente, arrancando o fino cordão do seu corpete que lhe sibilava ao redor das ancas como o escorregar de uma cobra. Ia na ponta dos pés nus ver ainda uma vez se a porta estava fechada; depois, com um único gesto, deixava cair, juntas, todas as suas roupas; - e, pálida, sem falar, séria, abatia-se contra seu peito, com um longo estremecimento..."
"... E então, olhando para trás, percebeu ainda uma vez o impassível castelo, com o parque, os jardins, os três pátios e todas as janelas da fachada..."
"...A loucura assaltava-a, teve medo e chegou a controlar-se, mas confusamente, é verdade; pois não lembrava a causa de seu horrível estado, isto é, a questão do dinheiro. Sofria somente em seu amor e sentia sua alma abandoná-la com aquela lembrança, como os feridos, ao agonizar, sentem a existência esvair-se por sua chaga que sangra.
A noite caía, algumas gralhas voavam..."
Gustave Flaubert, Em: Madame Bovary.
Gustave Flaubert
[...] Bem ou mal, é uma coisa deliciosa escrever, não ser mais para si mesmo, mas circular em toda a criação de que se fala. Hoje, por exemplo, homem e mulher tudo junto, um e outro amante ao mesmo tempo, eu passeei a cavalo, numa floresta, por uma tarde de outono, sob folhas amarelas, e eu era os cavalos, as folhas, o vento, as palavras que eles diziam e o sol vermelho que fazia entrecerrar as pálpebras afogadas de amor. É orgulho ou piedade, é o extravasamento néscio de uma auto-satisfação exagerada? Ou então um vago e nobre instinto de religião? Mas quando eu rumino, depois de tê-las sentido, estas alegrias, vejo-me tentado a fazer uma oração de agradecimento ao bom Deus, se eu soubesse que ele me ouviria. Que ele seja bendito por não me ter feito nascer negociante de algodão, escritor de vaudeville, homem espirituoso etc.! ... "
Flaubert, Gustave, Em: Cartas exemplares.
Flaubert, Gustave, Em: Cartas exemplares.
domingo, 19 de abril de 2009
Rimbaud
domingo, 5 de abril de 2009
E.E. Cummings
Para minha filha Aline,
" Carrego seu coração comigo
Eu carrego no meu coração
Nunca estou sem ele
Onde quer que vá, você vai comigo
E o que quer que faça
Eu faço por você
Não temo meu destino
Você é meu destino meu doce
Eu não quero o mundo por mais belo que seja
Você é meu mundo, minha verdade.
Eis o grande segredo que ninguém sabe.
Aqui está a raiz da raiz
O broto do broto e o céu do céu
De uma árvore chamada VIDA
Que cresce mais que a alma pode esperar ou a mente pode esconder
E esse é o pródigo que mantém as estrelas à distancia
Eu carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração. "
* Extraído do Poema de E.E. Cummings
" Carrego seu coração comigo
Eu carrego no meu coração
Nunca estou sem ele
Onde quer que vá, você vai comigo
E o que quer que faça
Eu faço por você
Não temo meu destino
Você é meu destino meu doce
Eu não quero o mundo por mais belo que seja
Você é meu mundo, minha verdade.
Eis o grande segredo que ninguém sabe.
Aqui está a raiz da raiz
O broto do broto e o céu do céu
De uma árvore chamada VIDA
Que cresce mais que a alma pode esperar ou a mente pode esconder
E esse é o pródigo que mantém as estrelas à distancia
Eu carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração. "
* Extraído do Poema de E.E. Cummings
sábado, 4 de abril de 2009
Camões
"(...)
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
...porque o amor é assim mesmo...
Sente-se... apenas."
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
...porque o amor é assim mesmo...
Sente-se... apenas."
Margaret Mitchell.
"... Aos dezesseis anos Scarllet dava a impressão de ser meiga, vaporosa e encantadora, mas na realidade era voluntariosa , pretensiosa e teimosa. Herdara a natureza impulsiva e apaixonada do pai holandês, e absulutamente nada da gentileza e abnegação materna ..."
Sobre scarllet, Em: e o Vento Levou.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Nelson Rodrigues
Gonzaguinha
"... Descobri o segredo da paz
A paz é da cor do amor
E o amor, meu amor é de toda cor..."
A paz é da cor do amor
E o amor, meu amor é de toda cor..."
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Chico Buarque
Pablo Neruda
Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem...
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem...
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Clarice Lispector
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