segunda-feira, 30 de maio de 2011
Marla de Queiroz
O choro secou. Um outono doce impera com seu aconchego de amor e lucidez, suaves. E esse abraço aveludado que chegou repentinamente, num calorzinho de cuidados e curas. Não restam mais feridas. A dor perdeu seu lugar na minha rotina e foi procurar outros rumos. Tenho novos sonhos e um sono novo e profundo. Suavemente tudo mudou de ritmo e celebrei o tempo de cada novo passo. A princípio tive tanta ansiedade, porque tudo parecia um turbilhão, mas de que adianta tentar pular aprendizados? Se é de poesia que o poeta precisa, vamos a ela e não mais à repetição de uma melancolia eterna e bem aprimorada.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Caio Fernando de Abreu
" ...você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente..."
domingo, 22 de maio de 2011
Caio Fernando de Abreu
Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.
Caio Fernando de Abreu
Remar.
Re-amar.
Amar.
Caio Fernando de Abreu
sábado, 21 de maio de 2011
Oscar Wilde
...Estou há quase dois anos na prisão. Durante esse tempo, meu temperamento me fez passar por momentos de selvagem desespero, de entrega total ao sofrimento, que era contristadora até para quem a observava, por uma raiva terrível e impotente, por sentimentos de amargura e rancor, por uma angústia que me fazia soluçar, um sofrimento que não encontrava palavras para expressar-se, um arrependimento mudo, um pesar silencioso. Passei por todos os estágios possíveis do sofrimento. Entendo melhor que o próprio Wordsworth o que ele quis dizer quando escreveu: "O sofrimento é algo permanente, misterioso e sombrio e tem a natureza do infinito".
Caio Fernando de Abreu
Algo de ]caio Fernando de abreu para vc...
"Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tempo incapazes de ver uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que recomponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome"..
"Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus -, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom"
"Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tempo incapazes de ver uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que recomponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome"..
"Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus -, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom"
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Autor Desconhecido
— E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
sábado, 14 de maio de 2011
Franklin Maciel
Não é ao deitar-se com alguém que se descobre o amor,
mas ao acordar enquanto o outro ainda sonolento e ter
a certeza de estar no lugar certo.
[
mas ao acordar enquanto o outro ainda sonolento e ter
a certeza de estar no lugar certo.
[
sábado, 7 de maio de 2011
Cristiana Guerra
“O que eu aprendi sobre o amor, filho, é que ele é feito de faltas e presenças. E que nenhuma das duas pode faltar. Aprendi que o amor é feito de liberdade. É como ter, todos os dias, muitas outras opções. E ainda assim fazer a mesma livre escolha.”
Cristiana Guerra
Cristiana Guerra
terça-feira, 3 de maio de 2011
José Saramago
"Porque os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas é fazê-las crescer..."
Martha Medeiros
“Ás vezes, estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino...”
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante , que viria de além muro da estrada .
Ele tinha que , tentado , vencer o mal e o bem,
Antes que , já libertado ,
Deixasse o camino errado por o que à Princesa vem.
A Princesa adormecida,
Se espera , dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida ,
E orna-lhe a fronte esquecida ,
Verde , uma grinalda de hera
Longe o Infante , esforçado, sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino ...
Ela dormindo encantada ,
Ele buscando-a sem tino , pelo processo divino
Que faz existir a estrada .
E , se bem que seja obscuro tudo pela estrada fora,
E falso , ele vem seguro ,
E , vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora .
E , inda tonto do que houvera ,
À cabeça em maresia ,
Ergue a mão , e encontra hera ,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante , que viria de além muro da estrada .
Ele tinha que , tentado , vencer o mal e o bem,
Antes que , já libertado ,
Deixasse o camino errado por o que à Princesa vem.
A Princesa adormecida,
Se espera , dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida ,
E orna-lhe a fronte esquecida ,
Verde , uma grinalda de hera
Longe o Infante , esforçado, sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino ...
Ela dormindo encantada ,
Ele buscando-a sem tino , pelo processo divino
Que faz existir a estrada .
E , se bem que seja obscuro tudo pela estrada fora,
E falso , ele vem seguro ,
E , vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora .
E , inda tonto do que houvera ,
À cabeça em maresia ,
Ergue a mão , e encontra hera ,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Florbela Espanca
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas , meu Amor, eu não tos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo , Amor , que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz !
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas , meu Amor, eu não tos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo , Amor , que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz !
domingo, 17 de abril de 2011
Caio Fernando de Abreu
Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto, para ver se não foi cortado. Não foi...
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Nando Reis
''Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia
Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar!''
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia
Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar!''
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
Caio Fernando de Abreu
"... Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."
domingo, 10 de abril de 2011
Caio Fernando de Abreu
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
sábado, 26 de março de 2011
João Donato / Caetano Veloso / Ronaldo Bastos
sábado, 19 de março de 2011
Oliveira Fidelis Filho
CELEBRANDO A VIDA
por Oliveira Fidelis Filho - fidelisf@hotmail.com
"Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele." (Salmos 118.24).
Segundo a narrativa da Criação, na Bíblia sagrada cristã provem de Deus a luz que torna possível o dia, a visão, o entendimento, a clara evidência do que até então se encontrava encoberto, mergulhado sob densas sombras, guardado no inconsciente.
Naturalmente, em nível de expansão de consciência, esta Luz progressivamente aumenta sua luminosidade na medida em que os domínios da inconsciência se deixam penetrar pelos lampejos conscientes. A Luz, portanto, diz respeito ao irrompimento da razão das entranhas do reino instintivo, do trabalho de parto da natureza que, grávida da essência divina, dá à luz a consciência nos seu estágio ainda infante, mas com a inabalável vocação, rumo à plenitude.
Deus criou a Luz e a Luz abriu clareiras em meio às trevas, oportunizando o nascimento de todos os dias; e cabe a nós, individualmente, "abrir alas" para que cada dia seja um desfile de celebração. Afinal, não adianta ser dia se a bateria que segura e dita o ritmo do desfile da vida encontra-se em descompasso com a harmonia do universo. Não adianta ser dia ou viver sob o brilho dos holofotes se os pensamentos seguem mergulhados em sombras e se os sentimentos são prisioneiros da angústia.
O rei e poeta Davi sabia que, principalmente, da Luz interna depende o brilho de cada dia. Entendia que as ondas de calor, as vibrações e a luz do sol e tantas outras vibrações externas possíveis, não garantem o dia iluminado, a vida em estado de celebração. Semelhantemente, as dificuldades, as limitações, as frustrações e as perdas não podem ser responsabilizadas, sozinhas, pelo estado de tristeza e desânimo que experienciamos.
A interpretação, o juízo de valor que atribuímos, a forma como reagimos em face ao acontecimento é que, em verdade, vai resultar no estado de espírito alegre ou triste, confiante ou desanimado. Em última análise, não basta saber que Deus ordenou a existência da Luz; é imprescindível remover as sombras para que em nós a Luz brilhe.
Observando a declaração de Davi: "Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele", parece-me claro que ele se responsabilizava pela beleza e a abundância de cada um de seus dias.
Para celebrar a vida, Davi em primeiro lugar atribuía ao Eterno Mistério a dádiva de cada dia. Percebia que o presente era um milagre, um renascimento, uma nova era, uma grande oportunidade de recomeço que devia ser recebido com celebração. Não lhe passava despercebida a dimensão sobrenatural de cada dia, ou seja, o fato de ser uma realidade sobre a qual não possuía nenhuma ingerência. Independentemente de seus atos bons ou maus, ações ou omissões, acertos e erros, oscilações de humor, após cada noite um novo dia lhe era disponibilizado.
Em segundo lugar, sabia que o dia era um espaço aberto e disponível a infinitas possibilidades, capaz de abrigar as mais variadas criações, para ser preenchido com as potencialidades existentes em sua própria vida. Davi tinha claro em sua mente como planejava se comportar em cada dia e por isso declara; "regozijemo-nos e alegremo-nos nele". Outros certamente preferiam choramingar, entristecer, lastimar, mergulhar em autocomiseração, transferir responsabilidade, condenar ou viver a síndrome do "coitadinho de mim". Para o rei poeta, entretanto, cada dia é um espaço disponibilizado pela infinita misericórdia de Deus, que ele preferia ocupar com regozijo e celebração.
Davi tomava para si a responsabilidade e o compromisso de colorir o cotidiano, colocando em cada momento as cores que ele, como pessoa, trazia por dentro. Percebia que a felicidade pode vir de praticamente todas as fontes quando não se está imobilizado com intermináveis murmurações e insatisfações.
Em terceiro lugar, Davi não se deixava subjugar pelo mostro da mesmice. Ainda que um novo dia chegasse esvaziado de significado e carregado de rotina, para ele e para outras pessoas, o recebia como um presente único, de valor inestimável, que merecia ser desembrulhado com cuidado, gratidão, responsabilidade e com o coração em festa.
Posso imaginá-lo acordando depois de uma restauradora noite de sono, que a vida em harmonia e disciplina proporciona, e declarando "Este é o dia que o Senhor fez: alegremo-nos e regozijemo-nos nele". Davi, não obstante a árida região em que habitava e o penoso trabalho que lhe tomava o tempo, nadava em constante poesia. O deserto exterior não ameaçava o oásis de sua alma. Aquele rapaz ruivo não era simplesmente alguém que fazia poesias, mas era um poeta da vida.(*)
Oportuno lembrar que a rotina não merece ser tachada de estraga prazer, pois a falta de prazer não é culpa dela e sim da ausência de gratidão. A rotina, quando fruto de disciplina, é de inestimável valor; torna-se entediante e asfixiante quando ficamos órfãos do encantamento, quando deixamos de atentar aos detalhes, quando excluímos o mistério, quando reduzimos tudo à normalidade. A rotina torna-se desagradável quando nos faltam criatividade e encantamento. Para um apaixonado não existe rotina; rotina é para quem caminha desacompanhado de emoção. A vida é cheia de magia para quem se deixa encantar, que não é preguiçoso para pensar e nem tem medo de sentir.
Celebra e alegra-se com a vida quem não deixa apagar a chama do fascínio, quem se permite arrebatar pelo mistério das coisas simples. Quem se rebela contra todo o estado hipnótico, quem rompe com os limites da caverna, quem opta por caminhar liberto dos formatos de rebanhos massificados.
Celebra e alegra-se com a vida quem banha a alma na fonte divina, quem mergulha desnudo no Eterno Mistério, quem se deixa bronzear pelo Sol da Justiça.
Celebra e alegra-se com a vida quem se esvazia para poder acolher, opta por servir antes de desejar ser servido, quem toma nas próprias mãos as rédeas da vida.
Celebra e alegra-se com a vida quem faz do corpo um templo sagrado, quem investe na expansão da consciência, quem encontra dentro de si a divina Essência.
Celebra e alegra-se com a vida quem se limpa dos sentimentos menores, quem vive o perdão como estilo de vida, quem faz da alegria sua fonte de força.
Celebra e alegra-se com a vida quem estabelece o domicílio da mente bem distante dos preconceitos e dos julgamentos, quem se permite relaxar na rede da flexibilidade, quem se refugia no calor da gratidão, quem ama as criaturas com o incondicional amor do Criador, quem se deixa atrair pela gravidade dos céus.
"Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele". Celebra e alegra-se com a vida quem protege o dia de hoje das mágoas do passado bem como do medo do futuro. "
por Oliveira Fidelis Filho - fidelisf@hotmail.com
"Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele." (Salmos 118.24).
Segundo a narrativa da Criação, na Bíblia sagrada cristã provem de Deus a luz que torna possível o dia, a visão, o entendimento, a clara evidência do que até então se encontrava encoberto, mergulhado sob densas sombras, guardado no inconsciente.
Naturalmente, em nível de expansão de consciência, esta Luz progressivamente aumenta sua luminosidade na medida em que os domínios da inconsciência se deixam penetrar pelos lampejos conscientes. A Luz, portanto, diz respeito ao irrompimento da razão das entranhas do reino instintivo, do trabalho de parto da natureza que, grávida da essência divina, dá à luz a consciência nos seu estágio ainda infante, mas com a inabalável vocação, rumo à plenitude.
Deus criou a Luz e a Luz abriu clareiras em meio às trevas, oportunizando o nascimento de todos os dias; e cabe a nós, individualmente, "abrir alas" para que cada dia seja um desfile de celebração. Afinal, não adianta ser dia se a bateria que segura e dita o ritmo do desfile da vida encontra-se em descompasso com a harmonia do universo. Não adianta ser dia ou viver sob o brilho dos holofotes se os pensamentos seguem mergulhados em sombras e se os sentimentos são prisioneiros da angústia.
O rei e poeta Davi sabia que, principalmente, da Luz interna depende o brilho de cada dia. Entendia que as ondas de calor, as vibrações e a luz do sol e tantas outras vibrações externas possíveis, não garantem o dia iluminado, a vida em estado de celebração. Semelhantemente, as dificuldades, as limitações, as frustrações e as perdas não podem ser responsabilizadas, sozinhas, pelo estado de tristeza e desânimo que experienciamos.
A interpretação, o juízo de valor que atribuímos, a forma como reagimos em face ao acontecimento é que, em verdade, vai resultar no estado de espírito alegre ou triste, confiante ou desanimado. Em última análise, não basta saber que Deus ordenou a existência da Luz; é imprescindível remover as sombras para que em nós a Luz brilhe.
Observando a declaração de Davi: "Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele", parece-me claro que ele se responsabilizava pela beleza e a abundância de cada um de seus dias.
Para celebrar a vida, Davi em primeiro lugar atribuía ao Eterno Mistério a dádiva de cada dia. Percebia que o presente era um milagre, um renascimento, uma nova era, uma grande oportunidade de recomeço que devia ser recebido com celebração. Não lhe passava despercebida a dimensão sobrenatural de cada dia, ou seja, o fato de ser uma realidade sobre a qual não possuía nenhuma ingerência. Independentemente de seus atos bons ou maus, ações ou omissões, acertos e erros, oscilações de humor, após cada noite um novo dia lhe era disponibilizado.
Em segundo lugar, sabia que o dia era um espaço aberto e disponível a infinitas possibilidades, capaz de abrigar as mais variadas criações, para ser preenchido com as potencialidades existentes em sua própria vida. Davi tinha claro em sua mente como planejava se comportar em cada dia e por isso declara; "regozijemo-nos e alegremo-nos nele". Outros certamente preferiam choramingar, entristecer, lastimar, mergulhar em autocomiseração, transferir responsabilidade, condenar ou viver a síndrome do "coitadinho de mim". Para o rei poeta, entretanto, cada dia é um espaço disponibilizado pela infinita misericórdia de Deus, que ele preferia ocupar com regozijo e celebração.
Davi tomava para si a responsabilidade e o compromisso de colorir o cotidiano, colocando em cada momento as cores que ele, como pessoa, trazia por dentro. Percebia que a felicidade pode vir de praticamente todas as fontes quando não se está imobilizado com intermináveis murmurações e insatisfações.
Em terceiro lugar, Davi não se deixava subjugar pelo mostro da mesmice. Ainda que um novo dia chegasse esvaziado de significado e carregado de rotina, para ele e para outras pessoas, o recebia como um presente único, de valor inestimável, que merecia ser desembrulhado com cuidado, gratidão, responsabilidade e com o coração em festa.
Posso imaginá-lo acordando depois de uma restauradora noite de sono, que a vida em harmonia e disciplina proporciona, e declarando "Este é o dia que o Senhor fez: alegremo-nos e regozijemo-nos nele". Davi, não obstante a árida região em que habitava e o penoso trabalho que lhe tomava o tempo, nadava em constante poesia. O deserto exterior não ameaçava o oásis de sua alma. Aquele rapaz ruivo não era simplesmente alguém que fazia poesias, mas era um poeta da vida.(*)
Oportuno lembrar que a rotina não merece ser tachada de estraga prazer, pois a falta de prazer não é culpa dela e sim da ausência de gratidão. A rotina, quando fruto de disciplina, é de inestimável valor; torna-se entediante e asfixiante quando ficamos órfãos do encantamento, quando deixamos de atentar aos detalhes, quando excluímos o mistério, quando reduzimos tudo à normalidade. A rotina torna-se desagradável quando nos faltam criatividade e encantamento. Para um apaixonado não existe rotina; rotina é para quem caminha desacompanhado de emoção. A vida é cheia de magia para quem se deixa encantar, que não é preguiçoso para pensar e nem tem medo de sentir.
Celebra e alegra-se com a vida quem não deixa apagar a chama do fascínio, quem se permite arrebatar pelo mistério das coisas simples. Quem se rebela contra todo o estado hipnótico, quem rompe com os limites da caverna, quem opta por caminhar liberto dos formatos de rebanhos massificados.
Celebra e alegra-se com a vida quem banha a alma na fonte divina, quem mergulha desnudo no Eterno Mistério, quem se deixa bronzear pelo Sol da Justiça.
Celebra e alegra-se com a vida quem se esvazia para poder acolher, opta por servir antes de desejar ser servido, quem toma nas próprias mãos as rédeas da vida.
Celebra e alegra-se com a vida quem faz do corpo um templo sagrado, quem investe na expansão da consciência, quem encontra dentro de si a divina Essência.
Celebra e alegra-se com a vida quem se limpa dos sentimentos menores, quem vive o perdão como estilo de vida, quem faz da alegria sua fonte de força.
Celebra e alegra-se com a vida quem estabelece o domicílio da mente bem distante dos preconceitos e dos julgamentos, quem se permite relaxar na rede da flexibilidade, quem se refugia no calor da gratidão, quem ama as criaturas com o incondicional amor do Criador, quem se deixa atrair pela gravidade dos céus.
"Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele". Celebra e alegra-se com a vida quem protege o dia de hoje das mágoas do passado bem como do medo do futuro. "
terça-feira, 8 de março de 2011
Clarice Lispector
”…mas não sou completa, não…completa lembra realizada…realizada é acabada…acabada é o que não se renova a cada instante da vida e do mundo…eu vivo me COMPLETANDO…mas falta um bocado…” Clarice Lispector
Citações
“…Eu gosto de viver… Já me senti ferozmente, desesperadamente, agudamente feliz, dilacerada pelo sofrimento, mas através de tudo ainda sei, com absoluta certeza, que estar viva é sensacional….” Agatha Christie
“…Mesmo tendo juízo… não faço tudo certo…Afinal, todo paraíso…precisa um pouco de inferno…” Martha Medeiros
“…Mesmo tendo juízo… não faço tudo certo…Afinal, todo paraíso…precisa um pouco de inferno…” Martha Medeiros
Citações
“As nossas diferenças não têm de ser um obstáculo…Podem ser um caminho para nos tornarmos pessoas melhores”. Autor descohecido
“…A oportunidade dança com aqueles que já estão no salão de baile…” Autor desconhecido
” Felizmente nasci mulher e vaidosa…” (Clarice Lispector)
“Sou assim: um pouco de perfume, de mistério, de paz, de alegria, de luz… Posso não mudar o mundo, mas com certeza vou ajudar a mudar o mundo de alguém.” Autor desconhecido
“Às vezes é necessário…sair da linha…deixar de ser “boa moça”…apertar o botão DELETE muito mais forte…chutar o balde…jogar tudo para o alto…dizer NÃO…gritar extremamente alto …colocar as mágoas na mesa…parar de engolir sapos…perder as estribeiras…socar algo (não alguém!)…quebrar os próprios limites…Declarar guerra e sair de cena livre, leve e solta.” Autor desconhecido
“…A oportunidade dança com aqueles que já estão no salão de baile…” Autor desconhecido
” Felizmente nasci mulher e vaidosa…” (Clarice Lispector)
“Sou assim: um pouco de perfume, de mistério, de paz, de alegria, de luz… Posso não mudar o mundo, mas com certeza vou ajudar a mudar o mundo de alguém.” Autor desconhecido
“Às vezes é necessário…sair da linha…deixar de ser “boa moça”…apertar o botão DELETE muito mais forte…chutar o balde…jogar tudo para o alto…dizer NÃO…gritar extremamente alto …colocar as mágoas na mesa…parar de engolir sapos…perder as estribeiras…socar algo (não alguém!)…quebrar os próprios limites…Declarar guerra e sair de cena livre, leve e solta.” Autor desconhecido
segunda-feira, 7 de março de 2011
Mário Quintana
“E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio,seguia sempre, sempre em frente…E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas”.
domingo, 6 de março de 2011
Renata Fagundes
"...Programar os dias, agendar compromissos, passar no mercado, ligar para a amiga que faz aniversário, aconselhar a filha, falar com Deus, cuidar da casa. Muita coisa, muita gente, muito da gente.
Quero desprogramar a vida, consertar a bússola do coração para encontrar o caminho dos sonhos.
Realidade demais endurece a gente. Vou rasgar os mapas, quero férias de agendas e datas.
Eu só preciso de caminho para os meus pés...''
Quero desprogramar a vida, consertar a bússola do coração para encontrar o caminho dos sonhos.
Realidade demais endurece a gente. Vou rasgar os mapas, quero férias de agendas e datas.
Eu só preciso de caminho para os meus pés...''
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Clarice Lispector
" Quanto a mim tenho que lhes dizer que as estrelas são os olhos de Deus vigiando para que tudo corra bem. Para sempre. E, como se sabe, para sempre não acaba nunca. "
(Clarice Lispector)
(Clarice Lispector)
Arnaldo Antunes
...
(...) Já não sinto amor,
Nem dor
Já não sinto nada...
Socorro alguém me dê um coração
Que esse já não bate e nem apanha
Por favor, uma emoção pequena,
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos,
Deve ter algum que sirva... (...)
(...) Já não sinto amor,
Nem dor
Já não sinto nada...
Socorro alguém me dê um coração
Que esse já não bate e nem apanha
Por favor, uma emoção pequena,
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos,
Deve ter algum que sirva... (...)
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
" ... "
" Uma história de amor talvez seja a tentativa – sempre fracassada – de viver com o corpo aquilo que certa vez fantasiou a alma. Mas não precisa ser assim. Aquilo que o próprio corpo fantasia parece bem mais rico. E possível."
...
Nossas histórias de amor não nos pertencem. Devemos entregá-las, vivê-las como que oferecendo todas as experiências e emoções ao além de nós.
...
Eu sou esse torrencial incontido que transborda para todos os lados, se esvai, deságua para um lado, escorre para outro. Eu quero repousar em algum lugar para finalmente me juntar inteira e sentir meu tamanho. Você pode ser esse lugar?
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Eu sou esse torrencial incontido que transborda para todos os lados, se esvai, deságua para um lado, escorre para outro. Eu quero repousar em algum lugar para finalmente me juntar inteira e sentir meu tamanho. Você pode ser esse lugar?
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Eu sou esse torrencial incontido que transborda para todos os lados, se esvai, deságua para um lado, escorre para outro. Eu quero repousar em algum lugar para finalmente me juntar inteira e sentir meu tamanho. Você pode ser esse lugar?
Milan kundera
“O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida? Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados"
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Caio Fernando de Abreu
“Desde que ele se fora, embora eu ouço versos que me falam sobre amores arruinados, o coração já não bate, esquecera completamente o tal do Tum-tum-tum. Será que o coração bate assim? Há algum tempo que não sei como ele reage, porque os dias estão vazios. Sabe toda aquela ideologia de que é possível viver sozinho? Pois é. Acreditava nisso piamente porque ele estava ao meu lado, agora que se foi tudo é cinza. E eu chorei um oceano inteiro essa noite. Eu precisava esvaziar.”
Emmanuel
"O pensamento escolhe. A Ação realiza. O homem conduz o barco da vida com os remos do desejo e a vida conduz o homem ao porto que ele aspira a chegar. Eis porque, segundo as Leis que nos regem, a cada um será dado segundo suas próprias obras." - Emmanuel
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Marla de Queiroz
Quieta, silenciosa, transitando lentamente pela casa, habitando o por dentro amplamente. Organizando meus livros, minhas gavetas internas, desarrumando outros espaços que de tão organizados me impossibilitavam novas manobras. Ouvindo outras músicas, conhecendo outros ritmos, respeitando o meu. Que me importa se é quase carnaval e todos os blocos estão na rua? Quero é o aconchego da quietude, da minha cama quente, o barulhinho frenético do teclado do meu computador. E essa musiquinha calma que me embala, sussurra. Nada grita, nada desagrada, não há desconforto; apenas estou quieta, observando, percebendo outras sensações que não as já tão conhecidas. Comendo quando tenho fome, dormindo quando sinto sono, lendo pra me alimentar do que gosto, escrevendo quando posso, enfim, desfrutando o aconchego do meu próprio colo…Falando pouco, um pouco séria, mas a minha alegria ainda impera, permeia tudo, o estado é de contentamento.
Se estou muito quieta e se recuso todos os convites para a pré-folia, não se incomodem, é a paz instalada no peito, e eu me fazendo a melhor das companhias… Claro que vasculhando tudo encontrei muitos fantasmas, mas, acreditem, existem muitos fantasmas bons.
(E me lembro do que escrevi pra alguém que um dia estava passando por um momento semelhante: que mãos vazias ainda são as melhores para se colher flores…)
Se estou muito quieta e se recuso todos os convites para a pré-folia, não se incomodem, é a paz instalada no peito, e eu me fazendo a melhor das companhias… Claro que vasculhando tudo encontrei muitos fantasmas, mas, acreditem, existem muitos fantasmas bons.
(E me lembro do que escrevi pra alguém que um dia estava passando por um momento semelhante: que mãos vazias ainda são as melhores para se colher flores…)
Adalgisa Nery
Ouve-me com os teus olhos
Porque a minha queixa é muda.
Acaricia-me com o teu pensamento
Porque o meu corpo está imóvel.
Beija-me com as tuas mãos
Porque a minha boca te espera.
Fala-me com o silêncio dos momentos de amor
Porque os ouvidos da minha vida
Se abrirão como as flores
Na úmida e infinita madrugada.
Porque a minha queixa é muda.
Acaricia-me com o teu pensamento
Porque o meu corpo está imóvel.
Beija-me com as tuas mãos
Porque a minha boca te espera.
Fala-me com o silêncio dos momentos de amor
Porque os ouvidos da minha vida
Se abrirão como as flores
Na úmida e infinita madrugada.
Olegário Mariano
ESPERA
Esperei-te toda a noite
Em crescente exaltação;
Os meus braços te acenavam,
Os meus lábios te chamavam,
E enquanto esperava, em vão,
Os ramos garajutavam,
Ao luar, teu nome no chão.
Quando veio a madrugada,
Eu tinha a face molhada...
Era de orvalho? Não sei.
Se a água do orvalho é salgada,
Foi engano. Eu não chorei.
Esperei-te toda a noite
Em crescente exaltação;
Os meus braços te acenavam,
Os meus lábios te chamavam,
E enquanto esperava, em vão,
Os ramos garajutavam,
Ao luar, teu nome no chão.
Quando veio a madrugada,
Eu tinha a face molhada...
Era de orvalho? Não sei.
Se a água do orvalho é salgada,
Foi engano. Eu não chorei.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
José Saramago
"(...)Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos nós cegos, puxo um fio que me parece solto./Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos. /É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos, e tem a macieza quente do lodo vivo./ É um rio./Corre-me nas mãos, agora molhadas./Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de repente não sei se as águas nascem de mim, ou para mim fluem./Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o próprio corpo do rio./Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os barcos e o céu que os cobre, e os altos choupos que vagarosamente deslizam sobre a película luminosa dos olhos./Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas águas como os apelos imprecisos da memória./Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga./Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e firme pulsar de coração./Agora o céu está mais perto e mudou de cor./É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo acorda o canto das aves./E quando num largo espaço o barco se detém, o meu corpo despido brilha debaixo do sol, entre o esplendor maior que acende a superfície das águas./Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas da memória e o vulto subitamente anunciado do futuro./Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar calada sobre a proa rigorosa do barco./Imóvel, espero que toda a água banhe de azul e que as aves digam nos ramos por que são altos os choupos e rumo rosas as suas folhas./Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem, sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas verticais circundam./Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra viva./Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se juntarem às mãos./Depois saberei tudo.(...)".
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Caio Fernando de Abreu
Guardo o meu amor por dentro. É precioso. Pensar nele faz com que eu tenha vontade de cuidar de mim mesmo – então é bom. Guardando, guardando, feito jóia. Precioso, delicado.
Vanessa da Matta
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo
Caio Fernando de Abreu
Meu Deus, não sou muito forte, não tenho muito além de uma certa fé — não sei se em mim, se numa coisa que chamaria de justiça-cósmica ou a-coerência-final-de-todas-as-coisas. Preciso agora da tua mão sobre a minha cabeça. Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre. Sinto uma dor enorme de não ser dois e não poder assim um ter partido, outro ter ficado com todas aquelas pessoas.
Lya Luft
E se eu tivesse perguntado? E se ele tivesse me dito? Se eu tivesse merecido saber? Isso me atormentou por longo tempo. Eu me sentia muito culpada. Hoje, acredito que não saber é o que torna a vida possível.
Vinícius de Moraes
Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.
Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.
Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...
Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.
Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...
Oswaldo Montenegro
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia. Deixa o que você calou e eu tanto precisava. Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia. Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava.
Alice Ruiz
Eu sinto que você é a pessoa mais parecida comigo que eu conheço, só que do lado do avesso.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Caio Fernando de Abreu
...uma possibilidade de amor.
Fragmentos disso que chamamos de "minha vida".
Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
Fragmentos disso que chamamos de "minha vida".
Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
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