sexta-feira, 30 de abril de 2010

Gabriel Garcia Márquez


Ela lhe parecia tão bela, tão sedutora, tão diferente da gente comum, que não compreendia que ninguém se transtornasse como ele com as castanholas dos seus saltos nas pedras do calçamento, ou tivesse o coração descompassado com os ares e suspiros de suas mangas, ou não ficasse louco de amor o mundo inteiro com os ventos de sua trança, o vôo de suas mãos, o ouro do seu riso. Não perdera um gesto seu, nem um indício do seu caráter, mas não se atrevia a se aproximar dela pelo medo de desfazer o encanto.
.
in O amor nos tempos do cólera

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ana Rüsche


como os dias não são sempre claros,

com seus pensamentos muito compridos
a menina fiava longos fios cinzentos.
e com sorrisos, imobilizava mãos e pés de bonecos
transformava-os em marionetes.

pintava nelas as feições que lhe agradassem,
ora tristes, ora alegres,
e as empalhava na prateleira do quarto.
ora tinha orgulho da coleção,
ora tinha vergonha de ainda brincar de bonecas.

os dias não são sempre claros.
e se alguma se soltasse de seus laços
e tentasse abrir os braços por vontade própria,
ela chorava muito,
se debatia e se esperneava,
vocês não têm dó de mim?
e então as marionetes se comportavam.

mas os dias não são sempre claros.
as marionetes se comportavam.
nem todos os dias são claros.

e por algumas noites escuras,
sem contar para ninguém,
a menina enforcava
pouco a pouco
todas as marionetes nas tramas
dos fios longos de seus pesadelos.
e desmanchava-se em lágrimas desesperadas pela manhã.

Rainer Maria Rilque




E de repente, neste árduo Nada,
o ponto inexprimível onde a insuficiência pura
incompreensivelmente se transforma - e salta
àquela vazia plenitude
onde o cálculo de muitos algarismos
se resove sem números.

Praças, ó praças de Paris, feira infinita,
onde a modista Madame Lamort
tece e retorce os caminhos inquietos do mundo –
numerosas fitas – em laços imprevistos, folhos, flores,
laçarotes, frutos artificiais, tudo falsamente colorido
para os módicos chapéus de inverno
do Destino.

Anjo, talvez haja uma praça que desconhecemos, onde,
Sobre um tapete indizível, os amantes, incapazes aqui,
pudessem mostrar suas ousadas, altivas figuras
do ímpeto amoroso, suas torres de alegria, suas trêmulas
escadas que há muito se tocam onde nunca houve apoio:
e poderiam diante dos telespectadores em círculo,
incontáveis mortos silenciosos. E estes arrojariam
suas últimas, sempre poupadas,
sempre válidas, diante do par
verdadeiramente sorridente, sobre o tapete
apaziguado.

in: Elegias de Duíno,

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Clarice Lispector


Mal-estar de um anjo



" ... Ao sair do edifício, o inesperado me tomou. O que antes fora apenas chuva na vidraça, abafado de cortina e aconchego, era na rua a tempestade e a noite. Tudo isso se fizera enquanto eu descera pelo elevador? Dilúvio carioca, sem refúgio possível, Copacabana com água entrando pelas lojas rasas e fechadas, águas grossas de lama até o meio da perna, o pé tateando para encontrar calçadas invisíveis. Até movimento de maré já tinha, onde se juntasse o bastante de água começava a atuar a secreta influência da Lua: já havia fluxo e refluxo de maré. E o pior era o temor ancestral gravado na carne: estou sem abrigo, o mundo me expulsou para o próprio mundo, e eu que só caibo numa casa nunca mais terei casa na vida, esse vestido ensopado sou eu, os cabelos escorridos nunca secarão, e sei que não serei dos escolhidos para a Arca, pois já selecionaram o melhor casal de minha espécie..."

Clarice Lispector


Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço. À espera do almoço, bebíamos sem prazer, à saúde do ressentimento: amanhã já seria domingo. Não é com você que eu quero, dizia nosso olhar sem umidade, e soprávamos devagar a fumaça do cigarro seco. A avareza de não repartir o sábado,ia pouco a pouco roendo e avançando como ferrugem, até que qualquer alegria seria um insulto à alegria maior.

A repartição dos pães , fragmento.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Pablo Neruda


Já és minha.

Repousa com teu sonho em meu sonho.

Amor, dor, trabalho, devem dormir agora.

Gira a noite sobre suas invisíves rodas
e junto a mim és pura
como âmbar dormido...

Nenhuma mais, amor, dormirá com meus sonhos.

Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.

Nenhuma viajará pela sombra comigo, só tu.

Sempre viva. Sempre sol. Sempre lua.

Já tuas mãos abriram os punhos delicados e

deixaram cair suaves sinais sem rumo.

Teus olhos se fecharam como duas asas cinzas,

enquanto eu sigo a água que levas e me leva.

A noite, o mundo, o vento enovelam seu destino,

e já não sou sem ti senão apenas teu sonho...



Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=79017#ixzz0mLOzx4Bk
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Pablo Neruda


A Noite na Ilha

Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

Pablo Neruda


"(...) Mas também queria
pedir uma coisa, Mario,
que só você pode cumprir.
Todos os meus outros amigos
ou não saberiam o que fazer
ou pensariam que sou um
velho caduco e ridículo.
Quero que você vá com
este gravador passeando
pela Isla Negra e grave todos
os sons e ruídos que vá encontrando.
Preciso desesperadamente de algo,
nem que seja o fantasma da minha casa.
A minha saúde não anda
nada bem. Sinto falta do mar.
Sinto falta do mar.
Sinto falta dos pássaros.
mande para mim os sons
da minha casa. Entre no jardim
e faça soar os sinos.
Primeiro grave esse repicar suave dos
sininhos pequenos quando o
vento bate neles, e depois puxe
o cordão do sino maior cinco, seis
vezes. Sinos, meus sinos! Não há
nada que soe tão bem como a palavra
sino se a penduramos num
campanário junto ao mar. E depois
vá até as pedras e grave a
arrebentação das ondas.
E se ouvir
gaivotas, grave.
E se ouvir
o silêncio das estrelas siderais, grave.(...)

Trecho do Poema de Pablo Neruda
do filme O Carteiro e o Poeta

Autor Desconhecido


"Eu imagino Deus como a fonte de toda a energia que criou e mantém o equilíbrio do universo. Vejo Deus na flor e na abelha que lhe suga o néctar para produzir o mel;e no pássaro que devora a abelha; e no homem que devora o pássaro...e no verme que devora o homem. Eu vejo Deus em cada estrela no céu,nas minhas noites nas pousadas, e nos olhos tristes de cada boi, ruminando na envernada...Só não consigo ver Deus no homem que devora o homem, e por isso acho que ainda tenho muito o que aprender nesses caminhos da vida...

Olavo Bilac


Ora ( direis ) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouví-las,
muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo? "

E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas

Antoine de Saint-Exupéry


" As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!"

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Gilberto Gil


É a sua vida que eu quero bordar na minha
Como se eu fosse o pano e você fosse a linha...
...E fosse aparecendo aos poucos nosso amor
Os nossos sentimentos loucos, nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa, da paixão
A sua vida o meu caminho, nosso amor
Você a linha e eu o linho, nosso amor...

Carlos Drummond de Andrade


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Adélia Prado




"Queria mais um amor. Escrevi cartas,
remeti pelo correio a copa de uma árvore,
pardais comendo no pé um mamão maduro
- coisas que não dou a qualquer pessoa -
e mais que tudo, taquicardias,
um jeito de pensar com a boca fechada,
os olhos tramando um gosto.
Em vão.
Meu bem não leu, não escreveu,
não disse essa boca é minha.
Outro dia perguntei a meu coração:
o que há durão, mal de chagas te comeu?
Não, ele disse: é desprezo de amor."

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Antonie Saint-Exupéry



"Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única, e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito; mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito; mas não há os que não deixam nada. Esta é a maior responsabilidade de nossa vida e a prova evidente que duas almas não se encontram ao acaso."

Autor Desconhecido


" ... O som do silêncio é que fica no ar. Num suspiro, deseja. Porque pedidos são feitos no escuro dos olhos de frente pra luz do pensamento. É uma força se sexto sentido, guardada desde muito tempo. De onde vem o pensamento antes de ser tornar verdade? Encontra-se em paz quando fecha os olhos pronta pra ir a lugares que não conhece. A alma está mais leve, e os planos cada vez mais cheios de amor. Caminha na chuva pra regar ideias e fazer germinar alguns sonhos com força de planta. Que nem girassol, risonho pro sol. Sente-se lagarta e ao mesmo tempo coloridamente borboleta. Passa igual navalha pelo passado e ao mesmo tempo assiste a vida de cima do telhado. De fora, tinha a sensação de estar sozinha no meio do mar. Achava perigoso viver. Talvez por isso sonhava. E jogava os sonhos em panos amarrados num saco que colocava nas costas. Dos seus dons favoritos era conhecer as criaturas vivas e não vivas por puro instinto. Quando o olhos brilhava, entendia. Quando criava asas, voava ..."

Clarice Lispector


"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas.Me entupo de ausências, me esvazio de excessos.Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos."

Chico Xavier


"...Novas folhas, novas flores, na infinita benção do recomeço! "

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Autor Desconhecido

O minuto que passa pode ser tudo que me
resta pra viver, mas eu desperdiço o
tempo como se ele fosse infinito.
Penso,logo sei,que existir é apenas uma circunstância.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Caio Fernando de Abreu

“Não importa quanto vai durar - é infinito agora.”

Sophia de Mello Breyner Andresen

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda
do que a tua

Jaya

... talvez meu lado de dentro seja um relicário..."

domingo, 18 de abril de 2010

Ana Jácomo

Uma das mais saborosas sensações de liberdade que eu conheço é flagrar meu coração feliz sem precisar de nenhum motivo aparente.
...
Rio e me sinto mar.'

Ana Jácomo

No ano novo, quero me encantar mais vezes.
Admirar mais vezes. Compartilhar mais amor.
Dançar com a vida com mais leveza, sem medo de pisarmos nos pés uma da outra.
Quero fazer o meu coração arrepiar mais frequentemente de ternura diante de cada beleza revista ou inaugurada.
Quero sair por aí de mãos dadas com a criança que me habita, sem tanta pressa.
Brincar com ela mais amiúde. Fazer arte.
Aprender com Deus a desenhar coisas bonitas no mundo.
Colorir a minha vida com os tons mais contentes da minha caixa de lápis de cor.
Devolver um brilho maior aos olhos, aos dias, aos sonhos, mesmo àqueles muito antigos, que, apesar do tempo, souberam conservar o seu viço.
Quero sintonizar a minha frequência com a música da delicadeza. Do entusiasmo. Da fé. Da generosidade.
Das trocas afetivas.
Das alegrias que começam a florir dentro da gente.'

Ana Jácomo


"Se gente não fosse feita pra ser feliz, Deus não teria caprichado tanto nos detalhes. Perseverança não é somente acreditar na própria rede.
Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas."

Caio Fernando de Abreu



"É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias,me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os dias."

Gabriel Garcia Márquez

"É preciso reviver o sonho e a certeza
de que tudo vai mudar.
É necessário abrir os olhos e perceber que
as coisas boas estão dentro de nós,
onde os sentimentos não precisam de
motivos, nem os desejos de razão.

O importante é aproveitar o momento
e aprender sua duração,
pois a vida está nos olhos
de quem sabe ver."

Gabriel Garcia Márquez


"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja.
Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia.
Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre."

sábado, 17 de abril de 2010

Ana Jácomo


'Não importa o quanto às vezes seja difícil, o quanto às vezes
eu me atrapalhe, o quanto às vezes eu seja a densa nuvem que
esconde o meu próprio sol, quantas vezes seja preciso recomeçar:
combinei comigo não desistir de mim.'

Caio Fernando Abreu


"Eu quero mesmo é alguém me faça mudar completamente de opinião.
Que faça meu corpo querer companhia nos momentos em que minha mente insiste pela solidão.”

Caio Fernando Abreu


"Gosto de olhar as pedras e os desenhos do vento na superficie da água, gosto de sentir as modificações da luz quando o sol está desaparecendo do outro lado do rio, gosto de sentir o dia se transformando em noite e em dia outra vez, gosto de olhar as crianças brincando no corredor de entrada e das palmeiras que existem no meio da minha rua — gosto de pensar que vou sempre ter olhos para gostar dessas coisas, e por mais sozinho ou triste que eu esteja vou ter sempre esse olhar sobre as coisas."

Ernest Hemingway

"Nenhum homem é uma ilha,somos todos parte de um continente.A morte de qualquer indivíduo me diminui como ser humano, portanto, não me perguntem por quem os sinos dobram: eles dobram por você."

Maiakovski

"Nos outros eu sei onde se abriga o coracão, é no peito; em mim a anatomia ficou toda louca, eu sou todo coracão."

Hilda Hilst


"Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água desejasse
Escapar de sua casa que é o rio e deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento."

Caio Fernando de Abreu


Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és...

Caio Fernando Abreu


Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mário Quintana

Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

F. Hugo Baggio


"Em meio a um campo devastado haverá sempre uma flor para quem sabe olhar."

Frederick Nietzsche


Sentimos ódio por quem devassa nossos segredos e nos flagra com sentimentos meigos. O que precisamos no momento não é simpatia, mas recuperar nosso poder sobre nossas próprias emoções.

Elvis Presley




" - Ser Feliz é o Maior Afrodisíaco que Existe. Voce Só passa Por esta Vida Uma Vez . Não Vai Ter Bis."

terça-feira, 13 de abril de 2010

Vital Farias


"... Não se admire se um dia, um beija-flor invadir, a porta da tua casa, te der um beijo e partir... fui eu quem mandou o beijo, que é pra matar meu desejo, faz tempo que não te vejo, ai que saudade d'ocê..."

domingo, 11 de abril de 2010

Carlos Drummond de Andrade


Cultivamos nossas dúvidas como rosas do jardim que não possuímos.

Milan Kundera


É errado, portanto, censurar um romance que é fascinante por suas misteriosas coincidências (...) mas é certo censurar o homem que é cego a essas coincidências em sua vida diária. Pois sendo assim, ele priva sua vida de uma nova dimensão de beleza.

Cecília Meireles


Quero ver-te à luz do dia para saber se é verdade o que a noite me dizia com tanta seguridade.

sábado, 3 de abril de 2010

Paulo Mendes Campos

"... Quando ela chegou à idade avançada de 15 anos e eu lhe dei de presente o livro Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na lo ucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espante s quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrad os conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece geralmente às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser séria ou profunda.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon!” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato; experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gatos se fosses eu?”.
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos cl ubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os corredores chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não conseguirá saber quem venceu. Para o bolso: se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde queres, ganhaste.
Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás i sso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois um romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo aos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida toda uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeit o é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. Mas como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor tem a sua medida. É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça..."
(Do livro “O Colunista do Morro”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1965).

Patricky Field


É complicado, atordoante, te vira completamente do avesso, mas encontrar a pessoa que te completa é a melhor sensação que alguém pode ter. É como se fosse um encontro consigo próprio, e como tal, é claro, amedronta, faz você repensar toda sua vida, e você descobre que não era nada antes de conhecer o verdadeiro amor, e que, depois dele, você já era, está aniquilado se não tiver mais, mesmo que por um dia, sua alma especial ao seu lado.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

(Samuel Rosa / Nando Reis)


E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce

Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

Conselho dos Astros

" ... Aprender, estudar e mais do que isso, mastigar abstrações para extrair a polpa, o sumo da essência do que realmente importa agora..."

Albert Camus


Amar é... sorrir por nada e ficar triste sem motivos,
é sentir-se só no meio da multidão,
é o ciúme sem sentido,
o desejo de um carinho;
é abraçar com certeza e beijar com vontade,
é passear com a felicidade,
é ser feliz de verdade!

G. K. Chesterton


(...)

Num conto de fadas há uma incompreensível felicidade que depende de uma incompreensível condição. Uma caixa é aberta, e todos os males saem voando. Uma palavra é esquecida, e cidades desaparecem. Uma lâmpada é acesa, e o amor voa para longe. Uma flor é arrancada, e vidas humanas perecem. Uma maçã é comida, e esvai-se a esperança em Deus.

(...)