quinta-feira, 29 de abril de 2010

Rainer Maria Rilque




E de repente, neste árduo Nada,
o ponto inexprimível onde a insuficiência pura
incompreensivelmente se transforma - e salta
àquela vazia plenitude
onde o cálculo de muitos algarismos
se resove sem números.

Praças, ó praças de Paris, feira infinita,
onde a modista Madame Lamort
tece e retorce os caminhos inquietos do mundo –
numerosas fitas – em laços imprevistos, folhos, flores,
laçarotes, frutos artificiais, tudo falsamente colorido
para os módicos chapéus de inverno
do Destino.

Anjo, talvez haja uma praça que desconhecemos, onde,
Sobre um tapete indizível, os amantes, incapazes aqui,
pudessem mostrar suas ousadas, altivas figuras
do ímpeto amoroso, suas torres de alegria, suas trêmulas
escadas que há muito se tocam onde nunca houve apoio:
e poderiam diante dos telespectadores em círculo,
incontáveis mortos silenciosos. E estes arrojariam
suas últimas, sempre poupadas,
sempre válidas, diante do par
verdadeiramente sorridente, sobre o tapete
apaziguado.

in: Elegias de Duíno,

Nenhum comentário: