sábado, 31 de janeiro de 2009

Slumdog Millionaire

Dica de Sábado:

Martha Medeiros

Quando você pensa que viu tudo
e mesmo assim quer ver de novo
e sentir na pele uma emoção sabida e repetida
e que não cansa porque é sempre renovada
e mesmo tão cansada você pede você quer você provoca
e quando acaba você pensa que isso é tudo
mas não é
Isso é felicidade

Martha Medeiros

Eu danço conforme o passo
Eu passo conforme o espaço
Eu amo conforme a fome
Eu como conforme a cama
Eu sinto conforme o mundo
Mas no fundo,
Eu não me conformo

Adélia Prado

Por que a mãe de stella tem os nervos em pânico?
Por que não consigo cultivar folhagens?
Por que tão arduamente vivo
Se meu único desejo é ser feliz?
O alarido dos que enchem a praça exibindo feridas
rói o bordado do meu casamento,
tarefa que executei com meus pais e meus avós
longínquos.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Dante Milano.



Uma coisa branca,
Eis o meu desejo.

Uma coisa branca
De carne, de luz,

Talvez uma pedra,
Talvez uma testa,

Uma coisa branca,
Doce e profunda,

Nesta noite funda,
Fria e sem Deus.

Uma coisa branca,
Eis o meu desejo.

Que eu quero beijar,
Que eu quero abraçar,

Uma coisa branca
Para me encostar

E afundar o rosto.
Talvez um seio,

Talvez um ventre,
Talvez um braço,

Onde repousar.
Eis o meu desejo,

Uma coisa branca
Bem junto de mim,

Para me sumir,
Para me esquecer,

Nesta noite funda,
Fria e sem Deus.

Dante milano, Em: Cem Melhores Poemas.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Paulo Leminski




Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis a luz que se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

Paulo Leminski,em: Os Cem Melhores Poemas.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

VICKY CRISTINA BARCELONA

Filme que vi no vôo de volta ao Brasil:

Manuel Bandeira

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Anaís Nin


"... Ela anseia por admiração insaciavelmente. Vive dos reflexos de si mesma nos olhos dos outros. Não ousa ser ela própria..."


" A beleza dela sobrepujou-me. Quando me sentei à sua frente, senti que faria qualquer loucura por ela, qualquer coisa que ela me pedisse. Ela era cor, brilho, estranheza..."

"...Estávamos caminhando pelo mundo, pela realidade, para o êxtase. Quando cheirou meu lenço, me aspirou. Quando vesti sua beleza, eu a possuí..."
Anais Nin, Em: Henri e June.

Do meu Diário


A vida não me quer assim, o redemoinho de agora
quer me levar para onde nunca fui... Pouco importa
se não assumi essa vontade de mudança...O momento
atual é como um estranho que chega em minha casa
e me causa surpresa mesmo depois do aviso de sua chegada...

E o texto certo sempre cai nas nossas mãos:

"...Partir nos faz mais fortes, curiosos, atentos. Atiça os sentidos. Ficamos menos dependentes e nos livramos dos grilhões (para alguns, confortadores) do familiar. Partir causa movimento porque, assim como água parada apodrece, nós corremos o risco de virar rascunhos de nós mesmos ao acostumar com a estagnação. Nada é mais perigoso do que ficarmos satisfeitos com o medíocre..."

Shakespeare

Há quem diga que todas as noites são de sonhos...
Mas há também quem diga nem todas...
Só as de verão...
Mas no fundo isso não tem muita importância...
O que interessa mesmo não são as noites em si...
São os sonhos...
Sonhos que o homem sonha sempre...
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano...
Dormindo ou acordado...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Cecília Meireles

No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto

Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.

Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.

E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.

E aí pra registrar meu estado de espírito
ontem de madrugada eu posto Lua Adversa,
o retrato mais perfeito de minha alma:

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fernando Pessoa




“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.”

Jorge de Lima

A Multiplicação da Criatura

parece, senhor , que me desdobrei .
que me multipliquei,
que a chuva dos céus cai dentro de minhas mãos ,
que os ruídos do mundo gemem nos meus ouvidos,
que batem trigo , chorando , sobre o meu tronco nu,
que cidades se incendeiam dentro de minhas órbitas .
parece , senhor que as noites escurecem dentro do meu ser multiplo ,
que eu falo sem querer por todos meus irmãos ,
que eu ando cada vez mais a procura de ti .
parece, senhor, que tu me alongaste os braços
à procura de abóbadas raras e iluminadas ,
que me estiraste os pés repousantes no limbo,
que os pássaros cansados em meu ombro repousam
sem saber que o espantalho é a semelhança tua .
parece que em minhas veias
correm rios noturnos
em que barqueiros remam contra marés montantes.
parece que em minha sombra
o sol desponta e se deita ,
e minha sombra e meu ser
valem um minuto em ti.

Elliot Gould

Ninguém pode ser escravo de sua identidade: quando surge uma possibilidade de mudança é preciso mudar.

sábado, 24 de janeiro de 2009

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Palavras riscadas em um livro velho

"...Três coisas, eu tinha três coisas pra resolver. Ladrilhar a rua, se fosse minha, pegar o ouro, houvesse arco-íris e chorar até o fim da tarde..."


" ... Sou a luta entre um homem acabado e um outro homem que está andando no ar..."
Murilo Mendes

"...Escrevo para me tornar invisível, para perder a chave do abismo..."

Do pensamento dos outros

"...É que no fundo, a gente é isso mesmo: uma vontade de ir, outra de ficar. Algo que quer emergir, coisa que quer ancorar. Barco que sonha partir, remo que afunda no mar. É um jogo de forças, opostas. Uma mão que impede, outra que chama. A direita estende o veneno, a esquerda, o antídoto. Algo procura a saída, o que me salva, o que me ceda. Algo se detona e resigna, pára na estrada. Um corpo prostrado..."

Murilo Mendes

Vocação do Poeta

Não nasci no começo deste século:
Nasci no plano eterno,
Nasci de mil vidas superpostas,
Nasci de mil ternuras desdobradas
Vim para conhecer o mal e o bem
E para separar o mal e o bem.
Vim para amar e ser desamado.
Vim para ignorar os grandes e consolar os pequenos
Não vim para construir a minha própria riqueza
Nem para destruir a riqueza dos outros.
Vim para reprimir o choro formidável
Que as gerações anteriores me transmitiram.
Vim para experimentar dúvidas e contradições.

Vim para sofrer as influências do tempo
E para afirmar o princípio eterno de onde vim.
Vim para distribuir inspiração às musas.
Vim para anunciar que a voz dos homens
Abafará a voz da sirene e da máquina,
E que a palavra essencial de Jesus Cristo
Dominará as palavras do patrão e do operário.
Vim para conhecer Deus meu criador, pouco a pouco,
Pois se O visse de repente, sem preparo, morreria.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Audrey Hepburn.



" ...As palavras aí estão, uma por uma:
porém minha alma sabe mais.

De muito inverossímil se perfuma
o lábio fatigado de ais.

Falai! que estou distante e distraída,
com meu tédio sem voz.

Falai! meu mundo é feito de outra vida.
Talvez nós não sejamos nós..."

Cecília Meireles

Cazuza

"Nunca tive medo de me mostrar. Você pode ficar escondido em casa, protegido pelas paredes. Mas você tá vivo, e essa vida é pra se mostrar. Esse é o meu espetáculo. Só quem se mostra se encontra. Por mais que se perca no caminho."

domingo, 11 de janeiro de 2009

Do meu Diário


...A cada amanhecer somos comtemplados com a possibilidade de que algo novo nos aconteça. É nesse momento que também constatamos que nossos dias estão repetitivamente iguais. Ansiamos pelo diferente. Ansiamos para que este novo seja bom. Nos lamentamos quando somos surpreendidos pelo indesejável. Queremos ser presenteados com o que nos faz feliz, com o que modifica nossos sentidos, nos faz sentir melhor. Queremos acordar com a sensação de que a novidade nos movimenta, nos move sem dificuldades.A acomodação é algo que não dói, mas se esparrama em nossa vida como um hóspede incômodo que prorroga indefinidamente a sua estada.A vida eternamente igual nos obriga a agradecer também pelo mal que não veio. Nosso desejo nos lembra e nos faz reconhecer com tristeza das coisas boas que não aconteceram. Queremos olhar no espelho e reconhecer um brilho novo nos olhos, uma motivação diferente que nos impulsiona a uma nova realidade. Um mundo contornado com novas cores, queremos ser enfeitadas com novos prazeres e queremos tomar
banho nas águas do desconhecido...

sábado, 10 de janeiro de 2009

Charles Baudelaire

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Rilke

Rilke: Amar também é bom, porque o amor é difícil. O amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais superior testemunho de nós próprios, a obra absoluta em face da qual todas as outras são apenas ensaios. É por isso que os seres bastante novos, novos em tudo, não sabem amar e precisam aprender.

É preciso aprender a amar?
Rilke: Sim. O amor é a oportunidade única de sazonar, de adquirir forma, de nos tornarmos um universo para o ser amado. É uma alta exigência, uma cupidez sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelo mais largo dos horizontes. Quando o amor aparece, os novos apenas deveriam enxergar nele o dever de trabalhar em si próprios. A faculdade de nos perdermos noutro ser, de nos entregarmos a outro ser, todas as formas de união, ainda não são para eles.

Primeiro, é preciso ajuntar muito tempo, acumular um tesouro. Quantos jovens existem que não sabem amar, que se limitam a entregar-se, como sucede habitualmente (e decerto a maioria limitar-se-á sempre a isto), e inclinam-se depois sob o peso do seu erro!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Dulce Pontes - Fado Português




Pedra

O distraído nela tropeçou.
O bruto a usou como projétil.
O empreendedor, usando-a, construiu.
O camponês, cansado da lida, dela fez assento.
Para meninos, foi brinquedo.
Drummond a poetizou.
Já, David matou Golias, e Michelangelo extraiu-lhe a mais bela escultura...
E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem!

(Autor desconhecido)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Muppet Beaker sings Yellow by Coldplay (YouTube)

" ... A chuva lembra Mary Poppins. A beleza, Audrey Hepburn. A sensibilidade, Florbela. És um céu de estrelas. Uma linda mulher! Divina flor de lótus nesse lamaçal de desilusões do cotidiano..."