quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ana Rüsche


como os dias não são sempre claros,

com seus pensamentos muito compridos
a menina fiava longos fios cinzentos.
e com sorrisos, imobilizava mãos e pés de bonecos
transformava-os em marionetes.

pintava nelas as feições que lhe agradassem,
ora tristes, ora alegres,
e as empalhava na prateleira do quarto.
ora tinha orgulho da coleção,
ora tinha vergonha de ainda brincar de bonecas.

os dias não são sempre claros.
e se alguma se soltasse de seus laços
e tentasse abrir os braços por vontade própria,
ela chorava muito,
se debatia e se esperneava,
vocês não têm dó de mim?
e então as marionetes se comportavam.

mas os dias não são sempre claros.
as marionetes se comportavam.
nem todos os dias são claros.

e por algumas noites escuras,
sem contar para ninguém,
a menina enforcava
pouco a pouco
todas as marionetes nas tramas
dos fios longos de seus pesadelos.
e desmanchava-se em lágrimas desesperadas pela manhã.

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