sexta-feira, 22 de abril de 2011

Fernando Pessoa

Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante , que viria de além muro da estrada .

Ele tinha que , tentado , vencer o mal e o bem,
Antes que , já libertado ,
Deixasse o camino errado por o que à Princesa vem.

A Princesa adormecida,
Se espera , dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida ,
E orna-lhe a fronte esquecida ,
Verde , uma grinalda de hera

Longe o Infante , esforçado, sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino ...
Ela dormindo encantada ,
Ele buscando-a sem tino , pelo processo divino
Que faz existir a estrada .
E , se bem que seja obscuro tudo pela estrada fora,
E falso , ele vem seguro ,
E , vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora .

E , inda tonto do que houvera ,
À cabeça em maresia ,
Ergue a mão , e encontra hera ,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

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