quarta-feira, 11 de março de 2009

Carlos Drummond de Andrade




A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

3 comentários:

Sonia Schmorantz disse...

Eu acho muito interessante este poema de Drummond, há muito que se refletir sobre verdades.
beijos

Anônimo disse...

Lindo texto

Volneci disse...

Muito bueno este poema, afinal estamos sempre procurando as verdades.