quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Carlos Drummond de Andrade




"O ano passado não passou,
continua incessantemente.
Em vão marco novos encontros.
Todos são encontros passados.

As ruas, sempre do ano passado,
e as pessoas, também as mesmas,
com iguais gestos e falas.
O céu tem exatamente
sabidos tons de amanhecer,
de sol pleno, de descambar
como no repetidíssimo ano passado.

Embora sepultos, os mortos do ano passado
sepultam-se todos os dias.
Escuto os medos, conto as libélulas,
mastigo o pão do ano passado.

E será sempre assim daqui por diante.
Não consigo evacuar
o ano passado"

Imagem: autor desconhecido.

Um comentário:

Juliana Dal Sasso Vilela de Andrade disse...

Oi, Mari!
Vim responder teu recado e acabei encontrando exatamente o que eu precisava ler hoje... Esse teu post caiu direitinho pra mim, como uma luva :)
Passe sempre lá no blog, será muito bem-vinda!
Beijos,
Ju