domingo, 1 de fevereiro de 2009

Ferreira Gullar

Agosto 1964

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do horror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato

um poema
uma bandeira

Ferreira Gullar

Um comentário:

Sonia Schmorantz disse...

Acredite que sua semana vai ser muito feliz,
que todos os dias o céu tem uma nova cor
e que o Universo conspira a seu favor,
sempre que você assim o quiser.
Assim que seus olhos avistarem o sol pela manhã
lembre-se que este novo dia está por ser escrito
e pode ser sempre um dia feliz,
se você se permitir assim...