sábado, 31 de julho de 2010

Ferreira Gullar

Prometi-me possuí-la muito embora
ela me redimisse ou me cegasse.
Busquei-a na catástrofe da aurora,
E na fonte e no muro onde a sua face,
Entre a alucinação e a paz sonora
da água e do musgo, solitária nasce.
Mas sempre que me acerco vai-se embora
como se me temesse ou me odiasse.

Assim persigo-a, lúcido e demente.
Se por detrás da tarde transparente
seus pés deslumbro, logo nos desvãos

das nuvens fogem, luminosos e ágeis!
Vocabulário e corpo - deuses frágeis-
eu colho a ausência que me queima as mãos.

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