Complacência de penhoar, café
E laranjas ao sol das onze horas,
Verde indolência de uma cacatua
No tapete – isso ajuda a dissipar
O santo silêncio do sacrifício.
Mas ela sonha, e sente aproximar-se,
Escura e lenta, a catástrofe antiga,
Como o descer da noite sobre as águas.
O odor das frutas, o brilho de asas verdes
Virão talvez da procissão dos mortos,
Que atravessa as águas, silenciosa.
Aquietou-se para dar passagem
A seus pés sonhadores sobre os mares
A Terra Santa de sangue e sepulcro.
Por que legar aos mortos o que é seu?
O que é o divino, se se manifesta
Somente em sonhos, sombras silenciosas?
Por que não encontrar prazer no sol,
No odor das frutas, brilho de asas verdes,
Em qualquer outro bálsamo terreno,
Tão caro quanto o próprio paraíso?
É nela que o divino há de viver:
Paixões chuvosas, cismas de nevascas,
Negras solidões, gozos incontidos
Quando a floresta se abre em flor; lufadas
De emoção em noites frescas de outono;
Toda dor e delícia; gordos ramos
De verão, galhos desnudos de inverno.
Estes, os ritmos próprios de sua alma.
Diz ela: “Ainda assim, sei que preciso
De alguma alegria imperecível”.
A morte é a mãe do belo, e só a morte
Satisfaz nossos sonhos e desejos.
Ainda que ela espalhe as folhas secas
Do aniquilamento a nossa frente
Pelo caminho da dor, pelos muitos
Caminhos onde exultou a vitória,
Ou onde o amor sussurrou sua ternura,
Faz o salgueiro estremecer ao sol,
Para moças que antes sonhavam na relva
E agora se levantam. Faz rapazes
Juntarem maçãs e ameixas novas
Num prato esquecido. As moças provam,
E apaixonadas andam sobre folhas...
Fragmentos de : Manhã de domingo.
Wallace Stevens
Wallace Stevens